Desenvolvimento Social
Para alimentar o desenvolvimento do país
No interior do país, distante dos grandes centros urbanos, se desdobra um movimento que é crucial para as ambições do Brasil. Muito se fala a respeito dos sucessivos recordes para volume de safra, assim como sobre a participação de 25% do agronegócio na economia brasileira. Também é notória nossa liderança mundial na exportação de produtos como soja, café, citrus, frango e carne bovina, para ficar nos mais conhecidos. O ponto crucial, porém, diz respeito ao potencial singular que o setor de alimentos tem de impulsionar a geração de empregos, renda e produção no interior, algo muito relevante diante do desafio persistente do país de promover a inclusão socioeconômica de sua população.
Atualmente, o setor alimentício responde por 1,9 milhão de postos de trabalho diretos e formais, o que equivale a 24,3% das vagas da indústria de transformação de acordo com dados da Pnad Contínua. Porém, se mapearmos por completo toda essa cadeia de produção, o número é muito maior e vai além dos empregos. Quando se pensa nos elos que permitem que a produção do campo chegue às mesas das famílias brasileiras e do mundo todo, é preciso considerar não só a colheita de grãos e frutos ou a criação de animais. Há equipamentos, logística, insumos e uma infinidade de atividades e serviços especializados que atuam de forma coordenada para que o objetivo de alimentar o país e o mundo seja realizado. A questão aqui é como mensurar tudo isso.
A ciência econômica mapeia o tamanho dessa rede de produção, com seus impactos diretos, indiretos e induzidos por meio do que chama modelagem de insumo-produto. Por essa técnica, se procura mapear a economia com uma série de setores interligados. Produzir alimentos, portanto, no geral se caracteriza por uma longa cadeia de suprimentos. Para cada emprego direto gerado numa unidade produtiva industrial, que podemos considerar como efeito direto, são criados outros pontos de trabalhos em seus fornecedores diretos de insumos, que, por sua vez, acionam uma cadeia de suprimentos, chamados de fornecedores dos fornecedores. Aí está o chamado efeito indireto.
O movimento não para aí. Além desses efeitos diretos e indiretos, existem os induzidos. O salário pago pela indústria para seus colaboradores volta para a economia na forma de consumo – mais produção e mais emprego associados ao que se produziu originalmente. Quando a gente olha para todos esses efeitos – diretos, indiretos e induzidos – ao longo das cadeias produtivas do setor de alimentos, chegamos a um efeito multiplicador muito grande.
Seguindo esse raciocínio, recentemente houve a divulgação de um estudo da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e pelo Nereus (Núcleo de Economia Regional e Urbana da Universidade de São Paulo) que corroborou a importância desse olhar mais amplo sobre as redes que se formam na produção de alimentos. Como exemplo, a pesquisa indicou que as cadeias produtivas ligadas à JBS movimentaram, em 2021, o equivalente a 2,1% do PIB (Produto Interno Bruto) e contribuíram para a geração de 2,73% dos empregos do país. A companhia, que contrata diretamente 145 mil pessoas em mais de 130 municípios brasileiros, ajuda na formação de 2,9 milhões de postos de trabalho, levando em conta as cadeias produtivas ligadas a ela, segundo esse levantamento. Aqui, citei o caso da empresa que dirijo, mas o mesmo tipo de modelo se aplica a outras companhias que demonstram o potencial do setor de alimentos como motor socioeconômico do interior brasileiro.
Recentemente, a Fundação Getúlio Vargas divulgou um estudo que reforça a contribuição cada vez maior da produção de alimentos num dos pilares mais importantes para qualquer economia: a geração de empregos. Entre 2019 e 2022, em que pese ter sido um período de muita turbulência – com a pandemia da covid-19, quebra de safra e conflito na Ucrânia -, o agronegócio brasileiro alcançou a maior taxa de formalidade desde o início da série histórica, em 2016.
Ao todo o setor tinha, em 2022, 13,9 milhões de postos de trabalho, contra 13,6 milhões três anos antes. Nesse intervalo, foram criadas 344 mil novas vagas, expansão de 2,5%, que permitiu superar o total de pessoas ocupadas antes da pandemia. Em igual período, outro dado relevante: o Valor Bruto da Produção Agropecuária, divulgado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, avançou 29,2%. Nesse processo, houve uma expressiva formalização do trabalho, além de uma tendência de maior estabilidade e remunerações mais altas. A taxa de formalidade na agricultura subiu para 23,5%, percentual mais alto da série histórica.
Esses estudos mostram a relevância da produção de alimentos para o crescimento do interior do Brasil. Com novas oportunidades de trabalho, melhora a qualidade de vida como um todo – mudam a renda, a educação, a saúde e a moradia das pessoas. Não só as cidades com unidades industriais instaladas, mas também as de seu entorno, se beneficiam do desenvolvimento de empregos e salários. Há ainda uma indução de ganhos de produtividade quando se analisam dezenas de setores interligados – como produção, capital, insumos, trabalho, terra, consumo das famílias e exportações de centenas de produtos.
Portanto, a ciência é capaz de calcular e de comprovar que o setor de alimentos gera de maneira direta uma quantidade muito relevante de empregos e de desenvolvimento econômico, além de uma infinidade de benefícios indiretos e induzidos também. Isso reforça a importância de se estimular essa indústria para promover a expansão econômica e a inclusão da população brasileira, em especial o interior.
Isso tudo num contexto que conjuga produtividade com responsabilidade. O Brasil tem um papel crucial a desempenhar na missão de alimentar a crescente população mundial num quadro marcado pelas mudanças climáticas. As oportunidades são amplas e, como rede, cada elo da cadeia de produção de alimentos precisa cooperar entre si.
O país vem demonstrando ao longo dos anos que conhece os caminhos para produzir mais com menos, preservando nossa biodiversidade, a mais rica entre todas as nações. Com a disseminação das melhores práticas e apoio sobretudo a quem tem menos acesso a avanços tecnológicos e recursos financeiros, as oportunidades da terra para a Terra vão se multiplicar.
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